Com raras e honrosas exceções, como os trabalhos de Nuno Ramos, encaro essas instalações "artísticas" pós-modernistas que costumam ser exibidas em Bienais e mostras de arte como tremendos embustes, invariavelmente justificados por seus criadores com discursos herméticos e rebuscados falando de liberdade criativa e rompimento de paradigmas. Pois bem: o que há de vanguardista em amarrar um cachorro doente na parede de uma galeria e deixá-lo morrer de fome em nome da, hmm, "arte"?
Por intermédio de minha amiga Ane Aguirre, tomei conhecimento da história de Guillermo Vargas Habacuc, um costarriquenho que, conforme descreve a escritora Rosa Montero em um artigo para o jornal El Pais, "afirma ser um artista". Em agosto deste ano, Habacuc criou uma instalação intitulada "Exposición N° 1", em uma mostra realizada na Galeria Códice, localizada em Manágua, capital da Nicarágua. Ao som do hino sandinista tocado ao contrário, os visitantes se deparavam, na entrada da exposição, com uma frase na parede ("eres lo que lees") cujas letras eram formadas por comida de cachorro.
Logo adiante, os visitantes eram surpreendidos pela seção mais polêmica da instalação de Habacuc: um cachorro enfermo, que teria sido capturado nas ruas de Manágua, preso em um canto da galeria. Segundo o "artista", sua obra representava uma homenagem a Natividad Canda, um nicaraguense morto recentemente devido a um ataque feito por dois cães da raça rottweiler. Justificou, desta maneira, a captura de um cachorro indefeso e doente, que também recebeu o nome de Natividad. Que não recebeu nenhum auxílio veterinário, não foi alimentado e, apesar dos pedidos de vários freqüentadores da exposição para que fosse solto, permaneceu amarrado até o dia seguinte à inauguração da instalação, quando morreu de fome diante dos olhares dos espectadores.
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